sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CONTO DE NATAL
Edmar Oliveira*
Era esmirradinho, tinha uns dezesseis que pareciam oito, se muito. Tinha mãe, na cadeia, mas tinha, e filho da puta és tu. Maria mãe devia estar passando necessidades no presídio. Ele, Jesus menino, não podia fazer seu presépio vivo, como o de outros natais nas ruas daquela grande cidade.

Era preto, um pequeno menino preto com um gorro de Papai Noel. Mancava. Mais parecia um saci com uma camisa do Flamengo. E tinha um cachimbo. Pererê a mágica que o deixava numa nóia em nuvem de fumaça que embaçava aquele presente que não existia. E a fumaça do cachimbo lhe levava as luzes de uma árvore de natal que nunca teve. E aquele montão de luzes da sua imaginação fazia um natal de brilhos, cores e estilhaços de um futuro que poderia ser diferente. Mas muito rápido as luzes iam e a nóia vinha na certeza de que o mundo todo lhe queria mal. Tinha que buscar outra pedra.

Como um zumbi, o saci mancava de uma perna que teimara em não crescer como a outra. Uma pedra podia fazer o cachimbo pererê fazer a mágica de tirá-lo deste mundo noiado, pois toda gente tinha medo dele. E onde estava a pedra que posta em fogo no cachimbo faria um pererê com esse mundo cruel que não tinha lugar pra quem não encontrava um lugar?

O crack mágico da queima da pedra no cachimbo pererê improvisado numa lata de coca-cola vazia. E aquela fumaça puxada com força e ainda com gosto gasoso da coca da lata vermelha cortava sua garganta, mas dos pulmões ia ao cérebro e como um passe de mágica fazia o mundo iluminado ficar bom, as luzes da árvore de natal piscar de várias cores e a música de natal invadir seus ouvidos para trazer Maria mãe muito perto, tomando o pequeno corpo do saci no colo acolhedor das carícias infantis que nunca teve.

Acordou noiado, junto ao lixo. O mundo real sem a mágica da fumaça do seu cachimbo tinha jogado o saci no lixo. Não é que não tenha futuro. Isso não conta. Ele não tem é presente. E era natal.

*Edmar Oliveira é Médico Psiquiatra, piauiense, radicado no Rio de Janeiro.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

PORQUE GRITAMOS?

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:"Porque é que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?" "Gritamos porque perdemos a calma", disse um deles. "Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?" Questionou novamente o pensador. "Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça", retrucou outro discípulo.

E o mestre volta a perguntar: "Então não é possível falar-lhe em voz baixa?" Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.

Então ele esclareceu:

"Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? "O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para se ouvirem um ao outro, através da grande distância.

Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão apaixonadas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes os seus corações estão tão próximos, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer de sussurrar, apenas se olham, e basta. Os seus corações entendem-se. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.

"Por fim, o pensador conclui, disse:

"Quando vocês discutirem, não deixem que os vossos corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta".


Mahatma Gandhi